sábado, 27 de outubro de 2007

Projeto de Aprendizagem - Concretismo

O que é o Concretismo?

Movimento de vanguarda na música erudita e nas artes plásticas que surgiu na Europa nos anos 50. Na literatura, a primeira manifestação oficial se dá no Brasil. O movimento defende a racionalidade e rejeita o expressionismo, o acaso e a abstração lírica e aleatória. Não há intimismo nas obras, nem preocupação com o tema. A idéia é acabar com a distinção entre forma e conteúdo e criar uma nova linguagem.
Na década de 60, poetas e músicos envolvem-se com temas sociais. De modo geral, é uma ligação pessoal, sem destaque na obra, a qual se preocupa mais com a inovação da linguagem. Muitos artistas, porém, defendem a afirmação do poeta russo futurista
Vladímir Maiakóvski (1893-1930) de que não há arte revolucionária sem forma revolucionária.

Na linha de Malevitch, Mondrian e outros precursores da abstração geométrica, o concretismo objetivava uma arte pautada pela racionalidade, contra a expressão de sentimentos e a representação naturalista. Rejeitando o subjetivismo e o acaso, os concretistas pretendiam sobretudo ser designers de formas: quadros sem texturas e poemas sem versos.

Na Europa, o ano de 1930 marcou um momento fundamental para o concretismo com o lançamento em Paris da Art Concret, revista de um grupo liderado pelo pintor Theo Van Doesburg, que em seu primeiro número propunha "destruir as formas-natureza e substituí-las por formas-arte". As idéias de Van Doesburg, que já descendiam do neoplasticismo de Piet Mondrian, foram retomadas a partir de 1936 por Max Bill, cuja vertente particular de concretismo, baseada na Suíça, exerceu influência na Argentina, no Brasil e na Alemanha.

Uma das contribuições mais originais do concretismo foi abordar os problemas da criação plástica junto com os problemas da criação poética, subordinando todos eles aos problemas da forma. Assim como a pintura geometrizada adotou a concretude das linhas e dos planos, abolindo as ilusões representativas, a poesia concreta, dando o verso por extinto, adotou o espaço gráfico como agente estrutural do poema. Em lugar da sintaxe discursiva tradicional propôs a sintaxe analógica, ideogrâmica que permitia a justaposição de conceitos.

Contra a poesia subjetiva, de expressão ou representação, a poesia concreta queria ser objetiva, sintética, presentativa - mais para ser percebida como um todo do que lida em frações. O material lingüístico, as palavras reduzidas a seus elementos visuais (letras) e fonéticos (sílabas), era relacionado ao espaço, donde a importância atribuída a sua distribuição na página. Os concretistas apresentavam como seus precursores, por terem tido preocupações semelhantes, Stephane Mallarmé de "Un coup de dés" (Lance de dados), Ezra Pound (Cantos), E. E. Cummings, Guillaume Apollinaire (Calligrammes), os futuristas e os dadaístas.

Em 1952 o sueco Eyvind Fahlström escreveu poemas concretos e, um ano depois, publicou o Manifest För Konkret Poesie (1953; Manifesto de poesia concreta). De particular importância foi a atividade do suíço-boliviano Eugen Gomringer, autor de Konstellationen (1955; Constelações), quase simultânea à atividade desenvolvida no Brasil pelo grupo paulista da revista Noigandres.

Em 1952 começaram os primeiros indícios do movimento concreto no Brasil. De um lado o grupo Noigandres, formado nesse momento por Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos. O surgimento do Grupo vem acompanhado do lançamento, em São Paulo, do primeiro número da revista, também com o nome Noigandres. De outro lado, o grupo Ruptura, formado por pintores e escultores também paulistas: Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro, Lothar Charoux, Kazmer Fejer, Haar, Sacilotto e Wladyslaw. As posições defendidas por estes artistas coincidiam, naquele momento, com muitas das formulações dos poetas de Noigandres. O grupo Ruptura iniciava uma reação, no campo das artes plásticas, a toda uma vertente subjetivista representada pela pintura figurativista de caráter expressionista. Ao mesmo tempo, o grupo reagia à tendência abstracionista, à concepção "hedonista da arte abstrata", nas palavras de Waldemar Cordeiro, baseada na criação pictórica anárquica, sem sentido visual e lógico (tintas jogadas na tela aleatoriamente). Assim, em nome de uma intuição artística dotada de princípios claros e inteligentes, de grandes possibilidades de desenvolvimento prático", o ideal plástico do Ruptura privilegiava a organização do espaço, a estruturação das formas e da cores, desvinculadas de conteúdos extra -pictóricos. O que interessava ao artista concreto, como observou o crítico Mário Pedrosa, era a "[...] exteriorização precisa da própria visualidade, uma objetividade formal que aspira o momento em que a própria mão poderá ser substituída na confecção do quadro". Do mesmo modo que a poesia concreta se afastava de suportes semânticos e sintáticos que permitiam uma decodificação mais discursiva dos poemas, a pintura concreta propunha uma nova visualidade que, orientada em princípios geométricos organizados segundo critérios de Gestalt (Teoria Geral da Forma), proporcionasse ao espectador, uma fruição objetiva - a composição observada no quadro deveria corresponder, exatamente, aquilo que o artista concebeu no projeto original da obra. Um quadro concreto de acordo com Max Bill, seria a "concreção de uma idéia", uma "realidade que pode ser controlada e observada". Inserindo-se, portanto, numa tradição construtiva que tinha como parâmetros o Neoplasticismo de Mondrian e Vatergerloo, o Suprematismo de Malévitch e as concepções estéticas de Theo Van Doesburg, as propostas de Max Bill e seus companheiros da Escola de Ulm, os artistas fundadores do grupo Ruptura atuaram, ao lado dos poetas concretos, na pesquisa de novas linguagem e formas de expressão.
Tendo a poesia concreta atingido o seu primeiro estágio de maturação - a plataforma teórica ganhava, cada vez mais, corpo e definição, o "paideum"e os procedimentos formais básicos já estavam estipulados - urgia o lançamento oficial do movimento. No final de 1956, mais precisamente dezembro, acrescida de um novo membro o jovem poeta carioca Ronaldo Azeredo, a equipe Noigandres, juntamente com os pintores e escultores aliados à mesma tendência, realiza a primeira
Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).

Participaram da exposição os seguintes artistas plásticos: Geraldo Barros, Aluísio Carvão, Lygia Clark, Waldemar Cordeiro, João S. Costa, Hermelindo Fiaminghi, Judith Lauand, Maurício Nogueira Lima, Rubem M. Ludolf, César Oiticica, Hélio Oiticica, Luis Sacilotto, Décio Vieira, Alfredo Volpi, Alexandre Wollner, Lothar Charoux, Lygia Pape, Amílcar de Castro, Kasmer Fejer, Franz J. Weissmann, Ivan Serpa e os poetas: Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, Ferreira Gullar e Waldimir Dias Pino.

A mostra se compunha de cartazes-poemas, apresentados ao lado de obras pictóricas e esculturas. As soluções gráficas dos cartazes (padronização de tipos, diagramação) foram sugeridas pelo artista plástico e publicitário Hermelindo Fiaminghi, que também participava do evento. Na ocasião a revista ad-arquitetura e decoração é contatada através de Waldemar Cordeiro e inclui no seu n 20 (novembro-dezembro), o material da exposição, funcionando, assim, como catálogo da mesma. Neste número escreveram artigos o próprio Waldemar Cordeiro, Décio Pignatari, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Ferreira Gullar. Foram publicados também, poemas concretos e clichês reproduzindo os quadros e esculturas dos artistas expostos. No auditório do MAM, Décio Pignatari e o crítico Oliveira Bastos pronunciaram conferências sobre a nova poesia. Paralelamente ao evento, foi lançado o n 3 da revista Noigandres, trazendo como sub-título, o nome poesia concreta. A exposição, como era de esperar, repercurtiu nos meios artísticos e intelectuais da capital paulista. Porém, o impacto maior da eclosão do movimento concreto vai ocorrer, de fato, quando a mostra é levada para o Rio de Janeiro, em fevereiro do ano seguinte e montada no saguão do MEC. A esta altura, o movimento ganha espaço amplo na imprensa, jornais e revistas de grande circulação deram cobertura ao evento.

Há muita controvérsia e muita discussão em torno da nova tendência e a Exposição Nacional de Arte Concreta se transformou, entre 4 e 11 de fevereiro de 57, no acontecimento mais importante da cidade maravilhosa. Foi realizado, sob o patrocínio do Teatro Universitário Brasileiro, um caloroso debate na UNE, em 10 de fevereiro. Nessa noite, Décio Pignatari faz uma conferência polêmica, assistida por importantes figuras da intelectualidade carioca. Mas talvez, o saldo mais positivo desses acontecimentos, para os poetas concretos, tenha sido o artigo "A Poesia Concreta e o Momento Poético Brasileiro", escrito por Mário Faustino e onde, após um rigoroso balanço da produção poética daquele momento, o autor de O Homem e sua Hora elegia os poetas criadores do novo movimento como representantes do que havia de melhor no campo da criação literária brasileira.
Após a realização da
Exposição Nacional de Arte Concreta, o movimento ganha repercussão. O poeta Manuel Bandeira, por exemplo, então decano do Modernismo, adere as posições de equipe Noigandres, realizando alguma experiências poéticas concretas, ao mesmo tempo que em sua coluna diária de crônica comentava a renovadora tendência.

Mas uma cisão ocorre dentro do movimento. O poeta Ferreira Gullar e Reinaldo Jardim desindentificam-se das posições do grupo paulista, em defesa de uma poesia “subjetivista e intuitiva”. O crítico Oliveira Bastos também assinou o manifesto de cisão, embora reconhecendo posteriormente a validade das propostas da poesia concreta. Dessa cisão, nasceria o Movimento NeoConcreto, que dura de 1959 a 1961. A partir da publicação, ainda nesse mesmo ano (1959), do "Plano- Piloto para Poesia Concreta", o movimento completa maturação e as irradiações de suas idéias começam a se fazer sentir não só no próprio ambiente literário, como também em outras áreas do contexto cultural brasileiro.

Nomes: Matheus Brehm, Marciano Antunes

Turma: 31

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Animação do conto "Entre Santos" de Machado de Assis