quarta-feira, 20 de junho de 2012

Episódio "O dia da partida"

Sobre a "Partida das Naus para a Índia" (Os Lusíadas, IV, 83-93) por Carmo Bairrada REFLEXÕES SOBRE AS ESTROFES 83-93 DO CANTO IV DE OS LUSÍADAS DE LUIS DE CAMÕES (AQUANDO DA PARTIDA DAS “NAUS PARA A INDIA”) Nestas estrofes, Vasco da Gama conta ao Rei de Melinde,a partida das naus para a Descoberta do caminho Marítimo para a Índia D. Manuel I remunerou todos os navegadores e dirigiu-lhes palavras nobres e estimulantes, para que eles tivessem mais amor pelos trabalhos, que viessem a executar durante a expedição. (Camões faz uma comparação erudita e mitológica entre os navegadores portugueses com uma vontade heróica de chegar à Índia e os Mínias com a sua nau Argos, que Jasão mandou construir para ir em busca do «Velo de Ouro».) ** NOTA: -**tinha a ver com as expedições gregas às costas do Mar Negro (Euxínio), que eram muito difíceis de contornar, em busca do ouro que a Grécia não possuia. (Estrofe 83) Foram de Emmanuel remunerados V.1 com palavras altas animados V.3 para quantos trabalhos sucedessem V.4 Assim foram os Mínias ajuntados, V.5 para que o Véu dourado combatessem, V.6 Tentar o mar Euxinio, aventureira. V.8 Estavam as Naus breves a zarpar e, sem medo e com ânimo juvenil, os marinheiros e os soldados estavam prontos a seguir Vasco da gama naquela aventura. (Estrofe 84) “E já no porto da ínclita Ulisseia V.1 (Onde o licor mistura e branca areia V.3 C ’o salgado Neptuno o doce Tejo) V.4 As naus prestes estão; e não refreia V.5 Porque a gente marítima e a de Marte V.7 Estão para seguir-me a toda a parte. V.8 Nesta estrofe, Camões designa Lisboa, como a afamada Ulisseia e fala do nobre alvoroço que aí se vive e que corresponde ao desejo de partir. Localiza-a espacialmente no sítio em que o Tejo une as suas águas (licor... e branca areia) às do oceano (referência mitológica a Neptuno. Pela praia os soldados avançavam com os seus fatos de várias cores e de várias maneiras, aparentando toda a sua força e energia para descobrirem outros mundos. As robustas Naus baloiçavam ao sabor de ventos calmos, e erguiam-se bem alto os estandartes pressagiando um final glorioso e imortal (ser no Olimpo estrelas como a de Argos). NOTA: (Segundo a Mitologia, a nau Argo foi colocada por Minerva entre as constelações do Universo). (Estrofe 85) "Pelas praias vestidos os soldados V.1 De várias cores vêm e várias artes, V.2 Para buscar no mundo novas partes V.4 Nas fortes naus os ventos sossegados V.5 Ondeam os aéreos estandartes; V.6 De ser no Olimpo estrelas como a de Argos. V.8 Vasco da Gama continua a descrição da partida fazendo realçar a parte física e psíquica dos navegadores. Apesar de eles terem comparecido com os seus melhores trajes, conforme a viagem pedia e de terem o moral elevado, também tinha que lhes preparar a alma para os perigos, que a partir dali começariam . Ele próprio com os olhos já cansados, pediu a Deus que os guiasse e os favorecesse desde início, pois todos os marinheiros andam sempre com a morte pela frente. (Estrofe 86) “Depois de aparelhados desta sorte V.1 Aparelhamos a alma para a morte, V.3 Para o sumo Poder que a etérea corte V.5 Sustenta só com a vista veneranda, V.6 Imploramos favor que nos guiasse, V 7 Sairam do templo que está junto ao mar, na Praia de Belém, (com o mesmo nome da terra em que Deus foi encarnar (nascer), e olhando bem para o Rei de Melinde, conta ao Rei como foi afastado daquelas praias levando dentro de si dúvidas e receios, dificilmente retendo as lágrimas. NOTA: Aqui Camões faz uma “perífrase”(circunlocução ou rodeio), para fazer um paralelismo entre Belém da Judeia onde Cristo nasceu e Belém de Lisboa de onde eles iriam partir. (Estrofe 87) “Partimos assim do santo templo V.1 Que o nome tem da terra, para exemplo, V.3 Donde Deus foi em carne ao mundo dado. V.4 Cheio dentro de dúvidas e receio, V.7 Que apenas nos meus olhos ponho o freio V.8 Naquele dia, a gente da cidade incluindo amigos e familiares dos navegadores e os estranhos que queriam assistir à partida dos mareantes, acercaram-se da praia, para fazerem as despedidas. Os marinheiros vinham já saudosos e tristes das suas famílias ali presentes. Juntamente com os religiosos que os iam acompanhar na viagem, seguiam em procissão solene para as naus, enquanto rezavam a Deus. Estrofe (88) "A gente da cidade aquele dia, V.1 (Uns por amigos, outros por parentes, V.2 Outros por ver somente)concorria, V.3 Saudosos na vista e descontentes. V.4 Em procissão solene a Deus orando, V.7 Para os batéis viemos caminhando.” V.8 (Estrofe 89) “Por perdidos as gentes nos julgavam; V.2 As mulheres c’um choro piedoso, V.3 Os homens com suspiros que arrancavam; V.4 Mães, esposas e irmãs, que o temeroso V.5 De já nos não tornar a ver tão cedo. V.8 O Capitão continua a sua narrativa, descrevendo com precisão alguns dos epísódios que não lhe passaram, de todo, desapercebidos: Uma velha mulher fala para o seu filho perguntando-lhe porque sendo ele o seu amparo na velhice, agora a abandona para ir morrer no mar... Outra, descabelada de desespero, falando com o seu marido, cuja ausência não sabe suportar, pergunta como pode ir aventurar-se no mar, deixando-a, e como é possível trocar o amor que os une para seguir um caminho para ele desconhecido... O choro das mulheres era seguido pelo de velhos e meninos, todos compartilhando aquela dor. A comoção era tanta, que até os próprios montes respondiam a tal clamor. As lágrimas eram tantas quantos os grãos de areia da praia. NOTA: Camões nesta frase faz uma hipérbole muito sugestiva da dor em comum. Ao ouvir aqueles clamores, o Gama determinou que os marinheiros e soldados se apressassem a partir sem as despedidas (habituais), a fim de evitarem arrependimentos de última hora. (Estrofe 90) “Qual vai dizendo: - “Ó filho, a quem eu tinha V.1 Só para refrigério, e doce amparo V.2 Por que me deixas mísera e mesquinha? V.5 Onde sejas de peixes mantimento!” - V.8 (Estrofe 91) “Qual em cabelo: -“Ó doce e amado esposo, V.1 Por que is aventurar ao mar iroso V.3 Essa vida que é minha, e não vossa? V.4 Como por um caminho duvidoso V.5 Vos esquece a afeição tão doce nossa? V.6 (Estrofe 92) “Nestas e outras palavras que diziam V.1 Os velhos e os meninos as seguiam, V.3 Os montes de mais perto respondiam, V.5 A branca areia as lágrimas banhavam, V.7 Que em multidão com elas se igualavam. V.8 (Estrofe 93) “Do propósito firme começado, V.4 Determinei de assim nos embarcarmos V.5 Sem o despedimento costumado, V.6 http://usazeitaoliteratura.blogspot.com.br/2011/11/analise-das-estrofes-83-93-do-canto-iv.html

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Animação do conto "Entre Santos" de Machado de Assis